Turismo de inverno: o papel da gastronomia na Serra da Mantiqueira

Com a chegada do frio, Campos do Jordão se transforma com o aumento no número de turistas. As ruas ganham charme europeu, o vapor da respiração se mistura à neblina da manhã e, entre uma caminhada e outra, o corpo pede aconchego, de preferência à mesa. Em uma cidade onde o clima é protagonista, a gastronomia se molda às estações, e três sabores se destacam como símbolos do inverno jordanense: fondue, pinhão e vinho quente. Mais do que alimentos, eles são rituais da estação, evocando memória afetiva, tradição e prazer compartilhado.

Fondue: tradição suíça com alma brasileira

Chegado à cidade na década de 1970 com os primeiros restaurantes inspirados nos Alpes, o fondue rapidamente se tornou ícone da gastronomia local. Servido em rechauds fumegantes, é mais do que um prato: é uma experiência para se viver a dois ou em grupo. Em Campos do Jordão, o fondue ganhou toques regionais. É comum encontrar versões com queijos artesanais da Mantiqueira, acompanhados de pães de fermentação natural, cogumelos frescos e até pinhão grelhado. Nas versões doces, o chocolate é derretido com cachaça envelhecida, servido com frutas da estação, muitas vezes colhidas ali perto.

Pinhão: o ouro da araucária

Símbolo das florestas de altitude, o pinhão é colhido entre abril e julho e faz parte da identidade gastronômica da serra. Presente desde os tempos dos povos originários até os cardápios contemporâneos, ele é versátil: vai do simples cozido até pratos sofisticados. Nos meses mais frios, é comum ver fogareiros à lenha preparando pinhão na manteiga com ervas frescas. Alguns restaurantes criam pratos autorais, como risotos de pinhão com truta, ou o já tradicional escondidinho de pinhão com carne de lata. Em feiras e festivais, ele é vendido em cones de papel, aquecendo as mãos de quem passeia pelo Capivari ou pelos arredores do Horto Florestal.

Vinho quente: o abraço líquido do inverno

Inspirado em receitas europeias de “mulled wine”, o vinho quente se popularizou em festas juninas, mas ganha status especial em Campos do Jordão. Feito com especiarias como canela, cravo e gengibre, ele é presença garantida nas noites de inverno, seja em eventos ao ar livre, feiras gastronômicas ou cafeterias da cidade. Alguns estabelecimentos inovam com versões que levam frutas vermelhas, raspas de laranja ou até infusões com ervas locais. Mais que bebida, o vinho quente é acolhimento em forma de gole.

O frio como tempero da experiência

Campos do Jordão não apenas oferece bons restaurantes e ingredientes frescos, ela cria um ambiente onde o frio valoriza cada sabor. É no contraste entre o ar gelado e o prato fumegante que nasce a memória afetiva, o registro fotográfico e o desejo de voltar. Ao experimentar um fondue em boa companhia, saborear um pinhão assado sob o pinheiro ou aquecer-se com um vinho quente enquanto observa a cidade iluminada, o visitante compreende por que comer em Campos do Jordão é muito mais do que se alimentar,  é sentir a estação com todos os sentidos.


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